Estava docemente cálida aquela manhã primaveril. O sol banhava com seus tépidos raios os futuros e ruidosos viajantes. A suave brisa mal balançava suas vestes, no entanto penetrava os corpos com o vigor refrescante das auroras e lhes bafejava na alma a fecundidade dos verdes campos do sul.
O jovem pastor consultou o relógio: sete horas. Estava na hora de partir. Pediu a todos que entrassem no ônibus e a cada irmão e irmã que subia os degraus conferia o nome e, com um alvo sorriso nos lábios, saudava-lhes com as palavras do Senhor. Todos presentes e acomodados, proferiu uma oração antes de partirem para o tão esperado retiro espiritual.
A viagem era longa. Os fiéis, ansiosos, comentavam sobre o lugar onde encontrariam seus irmãos, um antigo seminário situado na região serrana do estado. Um paraíso. Afastado da cidade, o seminário era cercado por uma exuberante mata carregada de pinheiros e cortada por um rio, cujas águas gélidas e cristalinas despencavam da montanha formando um imenso véu de noiva.
Na subida da serra, um caminhão desgovernado chocou-se em cheio contra o ônibus, esmagando-o no paredão do morro. Foram mais de seis horas de engarrafamento. A televisão mostrava o trabalho de resgate dos sobreviventes, presos em meio às ferragens, e o desespero dos pais, amigos e familiares. Entre lágrimas e risos convulsos, uma senhora agradecia a Deus pela vida do seu filho.
marciano lopes
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