segunda-feira, 29 de junho de 2009

No meio do caminho: o eterno retorno do mito


NEL MEZZO DEL CAMIN


Nel mezzo del camin
tinha uma onça.

Nel mezzo del camin
tinha um leão.

Nel mezzo del camin
tinha uma loba.

Nel mezzo del camin
agora
tem pedras.

Tem TVs a cabo
e mais de mil canais
(quase todos tão iguais...)

tem Rambos
e exterminadores de tudo
(principalmente de utopias!)

tem milk-shakes em shopping-centers
e chupetinhas em cada esquina
(que é pra ninguém voltar
de camisinha vazia)

tem Nikes, Kodaks, Caras e Kojaks
Parmalats, Microsofts, Bennetons e muitas bykes
(do you like it, my little boy?)

tem Big Brothers, Big Bushes e até Bin Ladens
(vai um Big-Saddan-Mac
para o seu breakfast, baby?)

Ai de mim.. Ai de mim...
Que tristeza sem fim...

Esse poema não tem métrica
e muito menos fim!

Ai de mim, ai de mim!
É melhor deixar assim
ou arrebentar logo com Caim!

Nel mezzo del camin...
Nel mezzo del camin...


Poemas: O muro & Nel mezzo del camin
(Marciano Lopes - ambos da série Línguas em fogo)

"No meio do caminho" é um tema - e um mito - constantemente lembrado e retomado na literatura, o que permite uma interminável viagem intertextual e dialógica. Para seguir um pouco mais essa trilha em minha poesia, ouçam no blog do Projeto Outras Palavras o programa Intertextualidade: No meio do caminho X O muro, dedicado a esse tema e ao conceito de intertextualidade.
marciano lopes

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Mirando Janis Joplin no I Acorde Universitário



MIRANDO JANIS JOPLIN

Letra: Marciano LopesMúsica: Luciano GalettiIntérprete: Ivan Téo
É nessa cadeira, vejam, é nesta cadeira vazia
que ouço Janis Joplin
e converso com Bertold Brecht
sobre os absurdos do mundo.
É nessa cadeira, vejam, que ouvimos Neruda cantar
e converso com o mais estranho e eclíptico demente
que com os meus olhos meninos eu vi!
Ele se delicia com rainhas, balões, porcos e pedras rolantes,
grita berra e murmura baixinho
que não tem certeza de nada e que a ignorância também é sábia.
Fala de doidos amores
conta as mulheres que comeu e cuspiu
nos podres vasos da aurora
nos banheiros sujos em que deixou
o âmago quente do seu estômago
cansado da burra servidão do dia.
É nessa cadeira, vejam,
é nesta cadeira vazia que converso com Janis Joplin
sim! eu converso com Janis Joplin!
Nessa cadeira Neruda a cantar!
Bertold Brecht fala dos absurdos do mundo!
Sim! Eu ouço Janis! Janis Joplin!
nesta cadeira vazia.

Não, não assuste não! São somente máscaras
com que disfarçamos o medo
o vazio o vácuo a velocidade a voz
que vem do nada por todos os lugares
jorrando como sangue do coração
fazendo esgares nos espelhos espalhados pelo caminho!
Sim, é nesta cadeira, vejam, é nesta cadeira vazia
que miro Janis Joplin!


Canção apresentada durante o 1º Acorde Universitário - Festival de MPB.
Promoção: Diretoria de Cultura da Universidade Estadual de Maringá (DCU-UEM), 2008.

Fruto proibido

taí, amo você
mas não me pergunte a razão, tá?!
as coisas do coração
carecem de razão
fazem ouvidos moucos
a todas evidências em contrário
a todas evidências
de que é tolice ou loucura
desejar teu amor
seja como for
seja súbito violento
cru e doido como todo presente
como todo desejo recalcado
que explode de repente
seja aos poucos
como uma planta que cresce
lentamente subindo as paredes
as grades os troncos os galhos
cobrindo todos os obstáculos
enchendo de vida tudo que é cinza
tudo que é palavra morta
pedra no caminho
rua estreita escura e torta
que teu sorriso ilumina
com uma graça tão doce
e olhos tão marotos
que neles me perco e me esqueço relevando
teus preconceitos mais relevantes
tal um pai que sonha e acredita que o tempo
toda pedra bruta poderá aos poucos polir
que todo límpido espelho poderá a luz da alma aflorar
que todo aguador dos deuses poderá ao menos um dia
com sempre sempre-vivas os abrolhos florir...

marciano lopes

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Pequena ode lírica à (ainda verde) Cidade Canção




Nunca vi cidade mais linda
e tão jovem! Tão propícia à arte
que seus músicos e poetas
lhe estendem o chapéu na mão!

Nela, as flores são mais flores
e as pedras são muito mais pedras!
Casimiro ou João Cabral
pouco importa, é tudo igual!

(Desde que não se introduza
a palavra fezes no poema.)

Nem a Carlos Drummond de Andrade
a lhe dever ficamos nós.
Se cá a flor não rompe o asfalto
na lama mais bela ela floresce!

(Quem dias de chuva aqui passa
o seu perfume jamais esquece.)

Que mal faz se todo bom dia
árvores nativas desabem
quando da terra que desertam
brota a modernidade em pó?

Primeiros, segundos, terceiros...
assim caminha a humanidade
e inventam-se tradições com
ídolos de Barros no altar!

(Revestidos com lã de carneiro
nossos olhos se enternecem muito mais...)

marciano lopes