segunda-feira, 16 de julho de 2012

Chamavento!


Pois transbordando de flores
A calma dos lagos zangou-se
A rosa-dos-ventos danou-se
O leito do rio fartou-se
E inundou de água doce
A amargura do mar
("Rosa-dos-ventos", Chico Buarque)
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Noite de vento, noite dos mortos.
         (O Tempo e o Vento, Erico Verissimo)

                                    Marciano Lopes



Divino vento!

Não nasce nem morre.

Apenas existe.

Infinito como o tempo.

Divino vento

que faz as montanhas virarem pó

e faz o pó invadir minha alma

carregando o cheiro fétido da morte.

Divino vento que tudo arrasa e arrasta!

Divino vento que move moinhos!

Inflama a chama alastra o fogo

e revolta os mares em vagas colossais!

Divino vento

que penetra por todos os cantos

poros, narinas e frestas...

Divino vento que revolve a terra

seca e esquálida

que povoa a história com sussurros

e desenterra velhos sonhos adormecidos.

Vem!

Vem divino vento!

Vem vendaval!

Vocifera em meus olhos a ira dos deuses

na imensidão da noite!

Vem!

Enlouquece a natureza!

Que corujas lancem pios!

Cães ladrem nos terraços!

Vacas pastem em jardins!

Cavalos relinchem em hotéis!

Gatos uivem no céu!

E ratazanas invadam as ruas

numa gargalhada infernal!

Vem!

Divino vento!

Vem com toda a fúria!

Com a ira de todas as malditas gerações

amordaçadas!

Vem!

Arrebata a rosa-dos-ventos!

Divino e bendito vento!
__________________________
Reescritura de um antigo poema intitulado "As vozes do vento", publicado no livro Concurso DCE-FURG - 15 anos de Contos e Poesias. Rio Grande/RS: FURG, 1987. p. 15-18.
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Link para a sua tradução para o espanhol: http://cantantesdelatierra.blogspot.com.br/2012/07/llamaviento.html

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