quinta-feira, 3 de maio de 2012

Antropofagia Nacional (Receita rápida de samba enredo)

Mulatinhas da Bahia,
que toda a noite em bolandas
correis ruas e quitandas
sempre em perpétua folia,
por que andais nesta porfia,
com quem de vosso amor zomba?
– pergunta o velho Gregório
com a boca em brasa

respondem mulatas
e sertanejas em flor:
 Ah! Vinde ver-me enfeitada
Com minha saia engomada,
Com meus tamancos azuis!
Vinde ouvir-me na guitarra:
Não há nas brenhas cigarra
Que me acompanhe, não há!

– e enquanto rola a festa
o mal pelos trópicos se espalha:

ela é a luz ardente do meio-dia
o calor vermelho das sestas da fazenda
o aroma quente dos trevos e das baunilhas
a palmeira virginal e esquiva dos areais
nuvem de cantáridas rindo e zunzunzumbindo
numa fosforescência paradisíaca ! NÃO !
 vocifera o Dr. Aluísio –

ela é o fruto dourado e acre dos sertões
cobra cascavel lagarta viscosa
muriçoca doida e traiçoeira
que esvoaça assanha endoidece
os desejos enlambecidos pelo sol
pelo cheiro ácido e sensual das cabras
pelos olhos lascivos e luxuriosos das macacas !!!
Cruz credo MEU Deus!
(grita o juiz azedo)

é preciso desbravar as matas

e branquear este país!
Que nada, otário!
(fala manso o malandro)

Basta botar o bumbum pra quebrar
que na primeira faz tchan !
na segunda faz tchan !
na terceira faz tchan !

&

TCHAN TCHAN TCHAN !!!


E como tapinha de amor não dói
basta bambolear o bumbum
na Sapucaí!!!

É isso aí mano! Sapeca aí o samba!

batebumbum batebumbum batebumbum
batebumbum batembubum  batebum
batebumbum batebumbum bate
batebumbum batebumbum ba
batebumbum batebumbum
batebumbum batebum
batebumbum bate
batebumbum ba
batebumbum
batebum
bate
ba
bate
batebum
batebumbum
batebumbum ba
batebumbum bate
batebumbum batebum
batebumbum batebumbum
batebumbum batebumbum ba
batebumbum batebumbum bate
batebumbum batembubum  batebum
batebumbum batebumbum batebumbum

 pois como já dizia o maldito Baudelaire:

Vous feriez, à l’abri des ombreuses retraites
germer mille sonnets dans le coeur des poëtes

e assim sendo, por fim concluo:
nádegas a declarar, caro Gabriel !

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(poema publicado no livro A Contrapelo, de Marciano Lopes)

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