terça-feira, 24 de agosto de 2010

Um conto de Nelson Alexandre: "Existência mínima"

Existem divisas no braço rude da fragilidade, que inspiram a redução da capacidade de metabolizar qualquer sentimento de lealdade. Ela abre a boca e mostra uma fileira de dentes como uma correia dentada num motor composto por peças que são órgãos de criaturas bizarras. Ela sopra vanguardas sob as partículas mortas de uma lenda antiga, deitada sobre as descargas elétricas de pensamentos reprimidos. Ela levanta as saias e mostra a entrada de um mundo preso por discursos políticos e fundamentalismos relacionados a mesquinharias caseiras. Ela nunca pede o meu órgão de conexão para uni-lo à sua complexa caverna de surpresas, num casulo de nódea eterna.
Ela faz jorrar os sonhos nos canais de carne viva, mostrando a sua beleza em um corpo dotado de um fino veneno. Sou o velho oráculo anexado a uma juventude que me liga a uma fonte de energia libidinosa.
Eu peço para que entre no carro. Ela dá impressão de estar desconfiada de claustrofobias autobiográficas. Pensamentos em caixas de fósforos em chamas. Finalmente partimos.
Hora ou outra dou uma olhadela nas coxas, na boca proibida que se forma naquelas pernas, e que fazem um discurso apoteótico a favor de que eu possa deslizar as mãos sobre elas. Eu vejo uma poesia suja, vestida com uma túnica de algodão, com papoulas cobrindo cada um dos seios.
Há um momento em que ela silencia a minha boca de besteiras radiofônicas, pronunciando o meu nome com brasas vivas na língua. Aparenta não querer chupar, mas quer, mas não chupa.
Língua abrasadora na glande é uma liquidação num dia em que estou duro. Eu tento a aproximação por amizade e consideração. Ataques leves com meus tentáculos de polvo faminto. Labirintos se cruzam num espaço mínimo de bolinação.
Ela corta a cena e a existência do nosso pequeno filme, assim, abruptamente. Derruba a câmera, vergando sobre mim uma acusação de total assédio, mostrando uma cara de falsa inocência que desaparece depois daquele sorriso de chupetinha não-feita.
“Qué pará?”
A noite é fria, chuvosa e nervosa em Space City.
Os dedos das minhas mãos parecem pit-bulls devoradores de mocinhas. Mas não há acordo. Apenas o velho “brigado, fulaninho!”
O som da porta batendo e se fechando. A imagem de suas costas nuas se movimentando em direção a um horizonte de discos voadores rasgando o céu e virando uma explosão de gozo solitário.
Nós existimos somente na zona proibida.
Num local ermo. Com pântanos gasosos exalando cheiros conspiradores. Gases tóxicos que estimulam o poder de ejaculação da besta de três cabeças e nenhum cérebro. Há, apenas, um número de candidatura sugando pensamentos mesquinhos. Interesses que manipulam um gado novo que é o mesmo gado velho e viciado. Engolidor de ruminações estéreis e promessas de vantagens não-cumpridas.
Nós não existimos.
O que existe, na verdade, é uma mancha negra crescendo no hemisfério direito do cérebro, em explícito boicote ao hemisfério esquerdo.
Quero que ambos se extingam.
Quero pensar numa existência mínima, desvinculada de todo empolamento de artifícios literários. Quero que ela volte. Dessa vez, não quero o desenho morto e suturado de suas costas indo em direção à gênese do nosso relacionamento natimorto. Eu a quero como todo homem quer uma mulher.
Empalada nele.

2 comentários:

  1. Caro Marciano, com todo respeito a ti e ao autor: o texto é UMA MERDA. Só mesmo em Pé Vermelho City algo dessa qualidade teria alguma repercussão. Teu amigo? Ótimo! Amigo das letras? Duvido.

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  2. Só mesmo um covarde para dar opiniões sob a égide do anonimato.Assim é fácil criticar o texto alheio, agora eu me pergunto, cadê o dele? Fuck off, seu imbecil.

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