sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"5 X Favela - Agora por nós mesmos"






Sinopse

Em 1961, cinco jovens cineastas de classe média, oriundos do movimento estudantil universitário, realizavam o filme "Cinco Vezes Favela". Carlos Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Marcos Farias e Miguel Borges eram aqueles jovens que tornaram o filme um marco do cinema moderno brasileiro e um dos fundadores do Cinema Novo. Passadas quatro décadas, "Cinco Vezes Favela, Agora por Nós Mesmos" reúne dessa vez jovens cineastas moradores de favelas do Rio de Janeiro, treinados e capacitados a partir de oficinas profissionalizantes de audiovisual ministradas por grandes nomes do cinema brasileiro, como Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, Walter Lima Jr., Daniel Filho, Walter Salles, Fernando Meirelles, João Moreira Salles e muitos outros. O projeto apresenta cinco filmes de ficção, de cerca de 20 minutos cada um, sobre diferentes aspectos da vida em suas comunidades. (Fonte: http://www.interfilmes.com/filme_23524_cinco.vezes.favela.agora.por.nos.mesmos.html)


Links associados:

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/788145-5-x-favela---agora-por-nos-mesmos-e-arte-engajada-sem-ser-politica.shtml - Crítica no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo por ocasião da estreia de "5 X Favela, agora por nós mesmos" nos cinemas.

http://www.paradoxo.jor.br/2010/11/5x-favela-agora-por-nos-mesmos.html - Crítica do jornalisto Rodrigo de Oliveira. Texto em seu blog "Paradoxo".

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/771399-5-x-favela-e-o-grande-vencedor-do-festival-de-paulinia.shtml - Notícia com os resultados do Festival de Cinema de Paulínia. "5 X Favela, agora por nós mesmos" leva 7 prêmios, incluindo o de vencedor do festival.
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Informações importantes:
http://www.adorocinema.com/filmes/5-x-favela-agora-por-nos-mesmos/noticias-e-curiosidades/

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes

Prof. Kássio Vinícius Castro Gomes
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Caro Igor, faço minhas suas palavras, sem tirar nem por. (Marciano Lopes)
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J’ACUSE !!!
(Eu acuso !)

« Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice.
(Émile Zola)

Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. (...)
(Émile Zola)

Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!). A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro. O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.


Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática. No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando... E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’, “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”

Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente... Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”. Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar. Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranquilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, frequentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado [ou professor]* sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;

EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;

EU ACUSO os “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito;

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas se gabam de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;

EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores. Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos-clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.

Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”

Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.

Igor Pantuzza Wildmann
Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário.
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* Já tive vários alunos nos meus 15 anos de magistério superior que se formaram professores de português sem saber escrever de uma forma minimamente aceitável para a função, produzindo textos desarticulados, repletos de erros (perdão, "desvios"...) de gramática (pontuação, concordância, sintaxe etc.) e - pior - com pouquíssima coesão e coerência. Encontrar "mais" em vez de "mas", "é" sem acento e outras coisas do gênero é comum... Muitas vezes estes alunos até possuem conteúdo e são críticos, mas será que isto basta, especialmente considerando que sairam habilitados para ensinar língua e literatura? Assumo aqui minha "mea-culpa", mas como reprovar tais alunos que já chegaram ao quarto ou quinto ano do curso (especialmente se forem formandos) devido à redação se eles já passaram por inúmeros professores de língua portuguesa que os aprovaram? E mais: se uma vez reprovados estes alunos terão o direito a cursar novamente a disciplina sem ao menos assistir as aulas? Se já não aprenderam estando em classe, vão aprender fora dela, somente agindo como autodidatas? Para mim, a dependência nada mais é do que o "fluxo", criado no ensino fundamental e médio (não se reprova, empurra-se o aluno e o problema para frente, com a barriga, ao mesmo tempo que se garante belos índices de aprovação escolar...), transferido para o ambiente universitário...
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Marciano Lopes

Apesar dos fogos, ainda atual.


CABEÇA DE PORCO, CABEÇA DINOSSAURO E OUTRAS CABEÇADAS *Aqui não tem terremoto. Aqui não tem revolução. É um país abençoado onde todo mundo mete a mão.
("Bem Brasil", Premeditando o Breque – 1985)

Pois é, passados mais de dez anos, parece que a música do Premê (como é conhecida a banda) continua atual, mas com uma ressalva: já não dá mais pra dar aquela gargalhada de antes. Continuamos sem terremoto (salvo alguns leves tremores) e sem revolução, mas estamos chegando lá, logo seremos primeiro mundo, afinal, pelo menos agora já temos terrorismo. Só não vê quem não quer. A guerra civil, antes mais restrita às favelas de Rio e São Paulo, por um lado, e à luta no campo, por outro, começa a tomar foros nacionais... Os ataques coordenados pelo PCC hoje extrapolam o espaço da grande São Paulo e até mesmo do estado de São Paulo. E a tática é evidentemente terrorista, mas com uma pequena desvantagem com relação a outras ações do mesmo gênero espalhadas pelo nosso azulado planeta: a ação não tem nenhum programa político, nenhuma plataforma ou proposta concreta que aponte para uma possível saída do buraco. É apenas uma truculenta reação à truculência do Estado e aos séculos de opressão, exclusão e miséria. E as cabeças de dinossauro com suas panças de mamute – que mandam, desmandam e sugam este país – parecem não querer ver que o barco tá tá tá descendo a corredeira... Mas por que fazer algo pra mudar a aviltante realidade brasileira se do jeito que tá tá tão bom e tá tá dando tanto lucro... Segundo o ponto de vista – polemicamente cristão – do antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares, ex-Subsecretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro e ex-Secretario Nacional de Segurança Pública, a violência e a estupidez dos excluídos não é aceitável, mas deve ser perdoada, pois expressa a revolta de quem nunca teve uma chance efetiva de ter sua identidade, cidadania e dignidade respeitadas. Diversamente, a violência das elites – que lucram com a corrupção, a desigualdade e a ignorância – é inaceitável, pois nada a justifica.

Em Araraquara, preso é içado pelo teto, em um pavilhão onde 1.600 homens se aglomeram num espaço para 160. (Pequena nota escondida próxima ao canto da página C7 do jornal Folha de São Paulo, 13 de julho de 2006).
Sem dúvida, não é fácil encontrar caminhos, mas ao menos é necessário ter vontade de mudar. Para isso, o primeiro passo é reconhecer as razões do Outro, a condição indigna em que os marginalizados estão mergulhados, ou, no mínimo, abrir os olhos para a revolta e o ódio que crescem vertiginosamente, se espalhando por todo o país. A cultura da favela e dos morros cariocas hoje é patrimônio nacional – ou ao menos está se encaminhando rapidamente para esta condição. Quem não acredita, que leia os relatos feitos por Luiz Eduardo Soares, MV Bill e Celso Athayde em Cabeça de Porco (Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2005), título cuja expressão significa “situação confusa e sem saída” na gíria das favelas cariocas. A seguinte passagem, em que Celso Athayde relata a visita a uma favela de Joinville, em Santa Catarina, é bastante exemplar disso:

Ele usava (referindo-se ao dono do morro) uma espada muito parecida com aquela que a imprensa mostrou, muitas vezes, como sendo a que matou Tim Lopes – se era mesmo, ninguém sabe. No início, achei que fosse coincidência, mas quando começamos a filmar. Percebi que eles usavam as mesmas expressões do Rio de Janeiro. Chamavam os inimigos de “alemão”, diziam-se do “Comando Vermelho”; seus inimigos eram nomeados “Terceiro Comando”, e muitas outras gírias totalmente cariocas eram empregadas. Eles reproduziam com precisão o dialeto das favelas cariocas. Era a primeira vez que tínhamos visto um caso como esse, parecia que os comandos do Rio de Janeiro tinham franchaises espalhadas por lá (Cabeça de Porco, p. 55).

Aliás, não é preciso ler este e outros livros do gênero para tomar consciência desta realidade, basta ler criticamente os jornais. Entretanto, é inegável que livros e documentários como Cabeça de Porco, O abusado, Falcão - meninos do tráfico, Cidade de Deus e Carandiru (os dois últimos levados ao cinema) podem contribuir em muito para que a classe média e as elites possam ver a cara deste Outro Brasil sem os estereótipos da imprensa e do poder estatal. Estereótipos que reduzem os excluídos à condição de bandidos e monstros (engraçado, quando se trata de criminosos do colarinho branco, que roubam milhões e também matam, digo, mandam matar, tais palavras não são usadas...) e assim promovem a elevação do muro que separa estes brasis e garante a ilusória tranqüilidade do cidadão, conforme argumenta Luiz Eduardo Soares. Em sua opinião, aquele, juntamente com o Estado, fica desresponsabilizado pelo agravamento da barbárie. Afinal, malandro sem-vergonha, ladrão, viciado e assassino são apenas os outros... Quando algum fato similar ocorre em nosso meio, trata-se de uma aberração, algo inexplicável, algum desvio genético ou trauma de infância... O MAL se encontra apenas no Outro... A apologia – feita via mídia – do poder, do sexo, do luxo, do jeitinho brasileiro, do consumo desenfreado como fórmula de felicidade estranhamente não diz respeito ao cidadão, mas somente ao Outro... Não queremos olhar a nossa face obscura, e assim muitos de nós arrancamos nossos olhos como se fôssemos um Édipo às avessas. Como esperar que as pessoas que não têm nada a perder, que não participam nem nunca foram convidadas a participar do pacto social compartilhem do mesmo?! Como esperar que estas pessoas respeitem as leis e a alteridade se nunca tiveram a chance de saber o que é isso e, pior, se vêem todos os dias aqueles que não precisariam agir desta forma fazerem tais barbaridades? Quando muitos “bandidos” vão incendiar um ônibus, mandam que seus passageiros saiam, pois o alvo não são eles. Mas quando a polícia entra na favela, muitas vezes entra atirando para perguntar depois.


(...) em São Paulo, em 2003, houve 1.191 mortes provocadas por ações policiais, mais de 65% delas com características de execução. Em 2004, houve 984; em 2005, foram 807 mortes (“Estes criminosos não têm ideologia” – entrevista de Luiz Eduardo Soares concedida a Pedro Souza Tavares, Diário de Notícias, 21/6/2006, p. 18).
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:A manchete da Folha de São Paulo do dia 13 de julho estampava em letras garrafais: “NOVOS ATAQUES DO PCC MATAM 7”. Número desprezível quando pensamos no número de favelados – muitos dos quais não são soldados do tráfico – que foram mortos sumariamente pela resposta das polícias aos ataques feitos há dois meses atrás. Faz lembrar o discurso dos governos norte-americano e de Israel. O primeiro, em poucos anos de ocupação do Iraque, não perdeu muito mais que umas centenas de soldados – fato que é alardeado como um horror que justifica o assassinato de milhares de civis do país que tem a sua autonomia e dignidade diariamente ofendidas pelo mesmo. Com respeito a Israel não é diferente. Porque dois soldados foram seqüestrados por terroristas do Hizbollah, o governo israelense julga-se no direito de bombardear alvos civis matando inúmeros pessoas no Líbano... – e isto não é barbárie?! Muito estranha esta lógica. Talvez sejamos muito burros e cabeçudos, mas também gentis homens como Zinedini Zidane dão as suas cabeçadas – e, no caso dele, com razão, provavelmente. Afinal de contas, ele não tem sangue de “cucaracha”, né? Enquanto isso, o governador Cláudio Lembo insiste em dizer que tá “tudo dominado” (opa, foi mal!), quero dizer: “tudo sob controle”... He he he, como diz o Macaco Simão, “a genti sofri mais goza”!
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* O texto acima foi publicado em minha extinta coluna Literatura e Sociedade (do antigo site da Teracom) no dia 23 de julho de 2006. Resolvi resgatá-lo de meu baú de escritos, pois permanece atual. Aliás, há até uma coincidência de contexto: o artigo foi feito logo após a copa de 2006, última antes desta recente copa de 2010. Daí a referência à cabeçada de Zidane. Se o texto fosse escrito hoje, talvez construísse o humor referindo-me ao descontrole emocional de Dunga, dando socos e tapas no que tivesse pela frente, mas a imagem não teria o mesmo efeito e elegância...

Marciano Lopes