quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Guerra no Rio: um olhar irônico [1]





O olhar irônico a que me refiro no título é meu. Mas isto não descarta a hipótese de que, em alguns casos, também seja do fotógrafo (de modo que a ironia seria construída e não acidental). Em outras palavras, é quase certo que, em algumas fotos, o olhar por detrás da câmera construiu conscientemente as ironias (e alegorias) que vejo nelas. Mas não vou dizê-las. Convido o leitor a fazê-lo (ou discordar) nos comentários.
:Não deixe de ver "Guerra no Rio [2]" . postagem que encerra a série.
:
Sobre o tema, veja ainda meu poema Sinuca I e "Do cortiço à favela"*, abaixo,
ambos publicados em meu livro A contrapelo, em 2007.

* Com pequenas (mas significativas) alterações.


DO CORTIÇO À FAVELA
(evolução de um samba enredado)

:
em memória de Wilson Batista, Geraldo Pereira, Noel Rosa,
Elis Regina e Bezerra da Silva

...............................................
Rio 40 graus/cidade maravilha / purgatório da beleza e do caos.
(“Rio 40 graus” – Fernanda Abreu, Fausto Fawcet e Laufer)

no batuque de todo dia
cabeças tetas e pernas
quebra quebra e requebra
no terreiro da favela

................................................................gatos giram navalhas
................................................................rodam espinhas de peixe

a baiana mexe que mexe
num bamboleio que tem que tem
balança embola e rebola
dá um nó nas cadeiras
e vem sambando vem!

...............................................................na maior patuscada
...............................................................não há quem não dê leite...
.............................................................. (upa upa neguinho!)mas o quê que a baiana tem?!

pé de moleque paçoca
vatapá e acarajé
berimbau moda viola
quindim e cafuné

quem não tem samba no pé
bom sujeito não é!

.............................................................. olha a sardinha assada!
.............................................................. boa gostosa e barata!
.............................................................. olha a sardinha assada!

o morro não tem vez!
mas o que ele fez...

............................................................deixa disso mano
........................................................... com macaco do governo
........................................................... a gente se junta e mete o cano!

........................................................... e se alguém pisa no meu calo
........................................................... é só pegar no cavaquinho........................................................... pra cantar de galo!

brota do barro híbrido
barão de massapé
mas no pagode da tia
tem cocada pó escopeta
bananeiras e barracos
treta trepando morro acima

que sarapatel de gatos!

........................................................... urubu de fraque e cartola
........................................................... vai voando vê o que rola
............................................................domingo no Maracanã

a mocidade tá tá tá tá maluca
quebra requebrando pelas ruas
num samba da maior fissura!

.......................................................... (taí o corpo estendido no chão...)

do alto das arquibancadas
os mirandas nos mirantes
gritam loucos por seus tanques
:
..................................THE APOCALIPSE NOW
..................................THE APOCALIPSE NOW
..................................o arsenal indo aos ares
..................................num estrondo nacional!

rebenta o rap nas rádios
o funk na periferia
abaixo do equador não há pecado
nem filosofia

.................................................................. ajoelhou tem que rezar
.................................................................. malandro que é malandro
.................................................................. apanha de bico calado
.................................................................. não vacila nem cagüeta
...................................................................e quando sai de cana
...................................................................é por todos respeitado


...........................................ei você aí!
............................... qual o pente que te penteia?!!

ei você aí!!!

.................................................................... olha o pente da macaca cá !!!
:
:...............................
Pega um pega geral
.................................também vai pegar você!:
.................................................................

                                                                      (chora na passarela
..................................................................... pra que negar, amor
.........................................................................a dor...)

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